Representantes do 146X Favela: pedido formal de audiência com o Governador |
No dia 21 de agosto, uma comissão de representantes do coletivo 146X Favela, ligado ao Plano Integrado de saúde nas
Favelas do estado do Rio de Janeiro, protocolou documento, no qual solicita
agendamento de audiência com o Governado do Estado, no sentido de convencê-lo quanto
ao equívoco de contingenciar recursos financeiros empenhados pela ALERJ, para ações
de saúde em áreas carentes e periféricas, em nosso estado. E não é de agora que
surgem cobranças quanto ao destino desses recursos para ações de saúde em
favelas. Em 01 novembro de 2023, foi protocolado pelo mandato do Deputado Estadual
Flávio Serafine, ofício destinado à presidência da Fiocruz e à Secretaria deEstado de Saúde, no sentido de pedir esclarecimentos quanto ao destino dado aos
25 milhões de reais que a ALERJ direcionou a ações de enfrentamento às precárias
condições de saúde nas quais vivem milhões de pessoas moradoras de comunidades fluminenses de baixa renda. Passado mais de um
semestre desde as primeiras cobranças formais junto ao estado, o que eram 54
iniciativas locais, somam hoje, com o dedicado esforço da Fiocruz, 146 ações em
diversos municípios do estado do Rio de Janeiro, comprometidas com a saúde
integral das favelas e que, infelizmente no que diz respeito ao governo estadual,
ainda não são justificativas suficientes para garantir o acesso aos recursos financeiros
que têm destinação específica. Nossas ponderações são no sentido de compreender
se esse modelo de gestão da saúde reflete, como parece, o princípio da “micropolítica”,
onde deliberadamente o Estado exerce violência extrema e cria “mundos de
morte”, onde certas populações são submetidas a condições de vida precárias e à
violência constante.
Desde 2016 o governo do estado do
Rio de Janeiro vem renovando, em estreita articulação com a ALERJ, uma
normativa que virou lei que “reconhece o estado de calamidade pública no âmbito
da administração financeira” (Lei nº 7.483/2016). É um argumento que tem
servido de justificativa para corte de gastos e contingenciamento de recursos
financeiros essenciais para o bom andamento de políticas públicas, em várias
esferas de governança. Esse manejo de recussos público se deu, por exemplo, com
a gestão da cultura, quando se tentou desviar parte do Fundo Estadual de Cultura
para tapar parte do rombo nas contas púbicas, o que não ocorreu por conta da
eficiente mobilização da classe artística, quando produtores, técnicos e mestres
da cultura popular fluminense se organizaram e por fim, barraram a intenção do
governo.
Já em 2023 o alvo tem sido os recursos destinados à saúde nas favelas e demais árias vulneráveis em nosso estado. A questão aqui tem a ver com recursos financeiros no montante de R$ 25 milhões de reais, que têm origem no Fundo Especial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, destinados a ações locais, a serem gerenciadas de forma transparente e participativa pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base na Lei 6.412/2022 que dispõe sobre a revisão 2023 do plano plurianual 2020-2023. No entanto, desde 2020, quando a pandemia da Covid-19 provou a criação de um programa global de saúde, nos demos conta de que o cuidado com populações vulneráveis é mais que um direito social. Se considerarmos que essa infinidade de vírus que nos cerca, está a cada dia mais resistente e adaptada aos nossos tempos, temos que nos preocupar com a necessária eficiência do SUS, estrutura fundamental para a sobrevivência dos mais pobres. Conforme citamos, há o sério risco de que passemos por mais um caso de desvio de recursos financeiros por parte do estado. Agora, em relação aos 25 milhões que têm origem na ALERJ, que se destina a execução de ações de saúde integral nas favelas, com ações coordenadas por uma das mais renomadas instituições de ensino e pesquisa em saúde, que é a Fiocruz.
O estado do Rio de Janeiro gastou
mais de 12 bilhões de reais em Segurança Pública entre os anos de 2022 e 2023,
ao passo que o montante destinado à saúde, não chega a metade disso, no mesmo
período, segundo matéria do G1, publicada no último dia 10 de julho. Ocorre que
nosso estado é o que menos gasta em saúde, segundo dados do governo Federal, sendo
essa uma justificativa plausível para que o Legislativo fluminense destine
recursos financeiros para esse fim. Isso, sem levar em conta o aporte de
recursos oriundos de emendas parlamentares impositivas, onde 226,2 milhões
foram destinados ao nosso estado, sendo 30% desse valor destinados compulsoriamente
à saúde, nos levando ao entendimento que o contingenciamento de recursos financeiros
voltados às favelas configura mais um caso de discriminação ou mesmo o típico
racismo ambiental, se considerarmos em quais ações policiais são aplicados parte
desses bilhões da segurança pública, em comparação às iniciativas
governamentais de saúde nas favelas.