sábado, 15 de março de 2025

40 ANOS DO MINISTÉRIO DA CULTURA – A SOCIEDADE CIVIL GARANTIU SEU LUGAR NA GESTÃO PÚBLICA?

Por Ivan Machado*

A história da democracia no Brasil sempre foi cheia de entraves e pedras pelo caminho. No entanto, alguns apontamentos por parte da sociedade, deram a direção para que avanços significativos se consolidassem em nossa estrutura republicana. Um marco  histórico nesse sentido, sem dúvidas, foi o Decreto 91.144, publicado em 15 de março de 1985, criando assim o Ministério da Cultura, que se torna um dos principais referenciais da redemocratização brasileira. Agora, colocando nossas práticas sociais, crenças e festejos, não apenas no centro das discussões políticas. Uma fatia  própria no orçamento da União, garantiria, a partir de então, as condições estruturais para os avanços nas políticas públicas setoriais da cultura.

Já se vai um quarto de século, desde que o Brasil adotou, do ponto de vista da gestão pública, o conceito contemporâneo e antropológico de cultura. A definição atual descreve a sociedade e pequenos grupos a partir de suas relações interpessoais, ritos, festejos e métodos de sustentabilidade, superando assim a antiga lógica que criava uma hierarquia,  na qual a cultura popular e/ou tradicional era menos crível que a chamada “alta cultura”. É a partir daquele momento histórico que o Brasil cria as bases para a construção de um Sistema Nacional de Cultura, horizontalizando o acesso e a fruição de bens culturais, entre todos os entes federados. 

As práticas sociais e estéticas, bem como a forma pela qual lidamos com elas, integram um conjunto de direitos, constitucionalmente estabelecidos, colocando a cultura no conjunto de direitos humanos (Art. 215). Assim, o acesso a bens culturais não é mais, segundo os ditames legais, sinônimo de privilégio às pessoas com maior poder de consumo e visibilidade midiática. Cabe agora à sociedade e ao Estado, regular tais práticas, mantendo-as sob constante e necessária revisão. Contudo, esse modelo, que apresenta mais acertos que equívocos, não se estabelece assim, num rompante. 

É sabido que a virada do Século XXI contou com esforços que nos conduziram até esse momento, culminando com o importante avanço que foi a garantia de recursos financeiros que serviram de alívio à agentes e coletivos cultuais, expostos à Covid-19, por exemplo. Vale lembrar que até março de 1985, a cultura integrava o antigo MEC e as discussões decorrentes da ocupação desse espaço de poder possibilitou a criação da Fundação Palmares em agosto de 1988, antes mesmo da promulgação da então “Nova Constituição” em outubro. Fica então notório que os esforços empenhados em favor da redemocratização Política deu vários frutos, inclusive no sentido de humanizar as instâncias de governo, geraram efetivos resultados também na gestão da cultura. 

Os avanços graduais que vivemos ao longo dessas quatro décadas, dá conta de que, assim como a base da sociedade interfere na produção cultural, o mesmo se dá no que tange a formulação e sistematização do conhecimento, capaz de produzir politicas publicas em consonância com a sociedade civil. Desde 2005, com a realização da primeira conferência Nacional de Cultura, surge um conjunto de diretrizes que, por sua vez, vêm de uma série de encontros municipais, regionais e estaduais, através dos quais foram estabelecidas as linhas mestras para a livre fruição da cultura,  no Brasil. 

Participaram daquele primeiro conclave 1.158 municípios, dos quais 19 estados e o Distrito Federal contribuíram com um total de 53.507 participantes. A maior quebra quanto a realização de conferências estaduais à época, ficou por conta da Região Norte, com os estados de Roraima, Amazonas e Pará, que não promoveram seus encontros. Goiás, Sergipe e São Paulo também optaram por ficar de fora daquela primeira mobilização. A partir daí, no que diz respeito à participação social nas políticas culturais, nada foi como antes. 

O empenho da sociedade civil em interferir diretamente na formulação de políticas de cultura, levou o Brasil a se colocar como uma das principais referências globais, no que se refere a participação social para o setor. Já a 4aCNC, realizada em março de 2024, contou com a participação de todos os estados e o Distrito Federal, contando com um público que se aproxima dos 4.800 participantes, nos três dias de disputadas discussões.

Do MEC ao MinC, os conflitos entre centralismo e gestão participativa 

Como já dissemos, no que se refere às políticas culturais, o Brasil já teve seu modelo hierarquizado de gestão, com estruturas que cultivavam a lógica das “belas artes” com preponderância sobre as expressões estéticas populares. Segundo Terry Eagleton (1993), “a estética também é um espaço de luta de classes”, no sentido de que esse ou aquele modelo de beleza atendem à visão de mundo de quem define as políticas públicas de cultura. E por conseguinte, o que deve ser absorvido como belo. 

É possível compreender o olhar dos governos sobre a cultura, se tomarmos como referência as estruturas criadas ao logo do tempo, começando pela visão de D. João VI, que impunha um modelo de beleza a ser estabelecido como “bom gosto”, na então Capital do Império, vide a criação, em 1810, da Biblioteca Nacional. Em um período no qual as taxas de analfabetismo eram altíssimas, com escolas públicas quase inexistentes, o centro da Capital do Império recebe de um templo para a literatura, que privilegiava a elite letrada, enquanto escravizados, camponeses e povos originários não eram vistos nem mesmos como cidadãos. 

Já na virada do Século XX e o fim da Monarquia, não houve mudanças significativas quanto ao acesso à  Educação e à valorização da Cultura popular. A mentalidade das elites sociais e econômicas era de negação da Monarquia e sua centralização de poder. Porém, aquelas elites locais e regionais, que se aliavam em favor da descentralização de poder, tinha em perspectiva garantir a manutenção de seus privilégios nos territórios. 

É claro que, a partir desses pressupostos, o analfabetismo cairia bem, no modelo de nação que se pretendia estabelecer. Manter uma camada social subordinada, reforçando com mitos e crenças locais, sem compreensão do poder contido em sua força de trabalho e no valor de sua capacidade criativa, era um trunfo a ser guardado na manga.

Segundo o historiador inglês Eric Hobsbawn (2002), “o  nacionalismo  vem  antes  das  nações.  As  nações  não formam os Estados e os nacionalismos, mas sim o oposto.”  Ou seja, não é natural que a construção do nacionalismo surja a partir das estruturas de poder, inclusive do Estado, o que causa estranhamentos na base da sociedade e privilegia fatalmente o ideário de nação circulante entre as e lites dominantes, como o que ocorre na chamada Era Vargas. 

A partir da revolução de 1930, o Presidente Getúlio Vargas entende que cabe ao Estado estabelecer as bases de uma identidade nacional horizontalizada. Para tanto, foi criado em novembro daquele ano o Ministério da Educação e Saúde Pública, muito motivado pelos elevados números relacionados a endemias, como a Febre Amarela. Assim, as questões relacionadas ao saneamento estariam ligadas ao processo educativo do povo brasileiro, com vistas à construção de uma nova identidade nacional. 


A propaganda estatal dava conta de mostrar ao restante do país um brasileiro  matuto, doente, incapaz de ascender socialmente, dadas suas predestinadas condições de vida e origem, cabendo ao estado definir o perfil dessa base social e determinar seu destino. Se antes o patriarcado era fragmentado, dando poderes aos antigos “coronéis” e seus latifúndios, agora é o “pai dos pobres”, como era popularmente chamado o Presidente Vargas, quem lucra politicamente com as dádivas franqueadas ao povo pobre e iletrado. 


O Chamado Estado Novo, estabelecido na Constituição de 1937, reafirmava legalmente o princípio da centralização do poder imposto em 30, tirando de uma tacada só a autonomia dos estados federados, do Judiciário e do Legislativo. É nesse momento que é criado o IPHAN (Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937) forjando, a partir dali, a ideia de patrimônio cultural a ser preservado. 


A educação patrimonial, à época, buscava sensibilizar a sociedade quanto a importância de ter preservados e protegidos monumentos e prédios históricos, centralizando estratégias no governo federal, para esse fim. É também nesse momento que se definem os primeiros critérios técnicos e científicos, basilares para a formação no universo do patrimônio material, inclusive no mundo acadêmico. No entanto, essa estrutura carecia ainda de algum mecanismo de participação social, a fim de dar o tom da gestão pública, a partir do olhar da sociedade civil, o que ocorre décadas afrente.


Em 1966, com a ditadura militar dando seus primeiros paços, é criado o Conselho Federal de Cultura. Um mecanismo de acompanhamento e proposição de políticas culturais, para subsidiar o regime militar quanto diretrizes que atendessem aos interesses dos militares. Esse mecanismo de controle social, aperfeiçoado e tão comum em nossos dias, surge no escopo de um conjunto de iniciativas, voltadas a propagandear de forma supostamente positiva, o regime, que demonstrava três estratégias básicas junto à produção cultural brasileira a época: censura prévia de toda produção artística, com restrição a discursos ou pautas contrarias ao regime; desenvolvimento de novas tecnologias e modernização da comunicação, visando difundir nacionalmente produções  favoráveis ao governo; criação de estruturas governamentais voltadas à gestão da cultura, permitindo ao governo se envolver diretamente na produção artística nacional. 


Nesse contexto, é criada em 1975 a Fundação Nacional das Artes - FUNARTE, órgão federal que teria como atribuição a gestão de espaços culturais, além de promover e acompanhar a produção artística em todo território nacional, além de promover agendas de circulação artística nos diversos segmentos. O mentor do modelo de gestão da autarquia naquele momento é o Ney Braga, experiente militar da reserva com vasta experiência na administração pública, desde os tempos de Vargas. É durante sua gestão que são também criados os conselhos nacionais de direito Autoral e de Cinema e a Campanha Nacional em Defesa do Folclore Brasileiro.


A condição secundária, a qual foram relegadas  as culturas populares e tradicionais no Brasil, se desfaz apenas ao fim do lento e gradual processo de Abertura Política. A Fundação Palmares, ligado ao MinC, simbolo maior dessa mudança de paradigma na gestão da cultura, pode ser considerada a estrutura pública que inaugura a ideia de cultura como direito humano, aos olhos do Estado brasileiro. 


São os movimentos sociais, sobretudo as comunidades remanescentes quilombolas, quem dão o tom de uma discussão que culmina na publicação do  Decreto Federal nº 3.912, de 10 de setembro 2001. Por força da lei e a partir de então, passa a ser de competência da Fundação Palmares, o levantamento das comunidades quilombolas, bem como o reconhecimento público e registro dessas comunidades, com vistas à posse legal de suas terras, junto ao INCRA.


Durante o processo eleitoral de 2002, o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendia em seus palanques a promessa de que, se eleito,  garantiria a criação de ao menos um espaço cultural em cada um dos mais de cinco mil e quinhentos municípios do Brasil. No ano seguinte, já eleito presidente, Lula convida o cantor Gilberto Gil para compor o MinC e dar o pontapé inicial do Programa Cultura Viva, cujo carro chefe é a criação de uma rede de Pontos de Cultura, ação posta em prática a partir de 2004, que vigora até os dias atuais, ampliando a cada ano a adesão por parte da sociedade civil organizada.


A chamada Era Lula se notabilizou pelo desenvolvimento de uma gestão progressista e humanizada da cultura. Alguns paradigmas foram quebrados em relação aos modelos autoritários, como a possibilidade de acesso de coletivos culturais a recursos públicos, nos mais distantes rincões do nosso país. Com a aplicação do princípio constitucional de descentralização de recursos públicos, foi possível a execução dos Fundos Municipais de Cultura, algo que sempre teve visibilidade nas pastas   da Educação, Saúde ou Assistência, por exemplo. Acessar recursos públicos e privados com o apoio do Estado brasileiro passa então a ser uma realidade, que produtores de pequeno porte passam a enxergar e executar, lançando luz sobre expressões culturais invisibilizadas.


O MinC, no contexto da “guerra cultural”

O que faz do MinC o ministério mais atacado pelo conservadorismo político e religioso, como percebemos na última década? Com um orçamento que não chega a 1,0% e um número de servidores aquém das demandas da sociedade civil e da própria gestão, o Ministério da cultura consegue apresentar maior eficiência no que tange a mobilização social, em comparação aos outros ministérios. São dados que parecem refletir no governo federal a capacidade de resistência de agentes e coletivos culturais, juridicamente organizados ou não, frente a uma parcela da sociedade que se incomoda com a diversidade e o livre pensamento.

Logo, podemos entender que é exatamente a penetração da cultura popular na base da sociedade, com sua diversidade e capacidade de interpretação do mundo à sua volta, o que oferece risco a quem defende a equivocada ideia de que “somos todos iguais”. Ou, pelo menos, desejam que assim sejamos, gerando o que essa camada conservadora chama de Guerra Cultural.

A justificativa de preservar valores caros à família tradicional brasileira, é, na verdade, a maquiagem utilizada por forças fundamentalistas avessas à diversidade e pluralidade de ideias, o que deveria ser natural em qualquer sociedade. Se considerarmos que a chegada dos navegantes portugueses às nossas terras, veio acompanhada pela cruz, enquanto símbolo da fé cristã hegemônica, não é difícil deduzir que a metodologia da dominação apenas se aperfeiçoou ao longo do tempo. 

O fundamentalismo religioso no Brasil se adaptou à nossa realidade social e suas linguagens, criando o movimento gospel, que passa a investir pesadamente em autopromoção, formando quadros políticos a partir dos anos 80. É um modelo denominado no Brasil à época como “Igrejas Eletrônicas”, onde pastores doi Oeste dos EUA, como Billy Graham e Rex Humbard influenciaram os atuais pastores midiáticos que conhecemos. Hoje esse segmento busca se legitimar na disputa de narrativa, não apenas com a ocupação de espaços de poder político e econômico, mas também na disputa pelo direito de ser visto e aceito como movimento cultural.

Em maio de 2016, sob a justificativa de enxugamento da máquina pública, o então presidente Michel Temer, que assume o cargo após o golpe contra a presidenta Dilma Roussef, rebaixou a gestão da cultura à condição de Secretaria Especial, em resposta à Direita golpista que o apoiou. No entanto, o movimento intitulado “Ocupa MinC” varreu o país, com manifestações que forçaram a retomada do Ministério junto a estrutura do governo federal. 

O que a direita conservadora passa a chamar de guerra cultural, como foi dito, não passava, na verdade, de uma dialética voltada a justificativa para a tomada de poder, carregada de simbolismos utilizados junto as massas. A construção desse imaginário coletivo teve as redes sociais como método de comunicação bem-sucedido, nos moldes do que foi a campanha de Obama, que o levou à presidência dos EUA em 2009, método esse, aperfeiçoado por Trump em 2016, por ocasião sua eleição e amplamente utilizado no Brasil. 

O bolsonarismo e o Trumpismo têm método. A utilização de estruturas religiosas como igreja pentecostais, canais de TV e artistas evangélicos, interferem diretamente nas mentalidades, sobretudo na camada desalentada da população. 

Além do rádio e da TV, como tradicionalmente ocorria, sobretudo na camada mais madura da sociedade, agora as novas tecnologias de comunicação alcanças os mais jovens, inclusive crianças e adolescentes, com linguagens que comunicam diretamente a essa camada social. Esses cidadãos em processo de formação se retroalimentam, através de uma metodologia de informação impregnadas de códigos sociais próprios, que mudam em uma velocidade maior que a capacidade de formulação das estruturas tradicionais de formação de conhecimento. Fato que tem dificultado o enfrentamento ao fundamentalismo e a intolerância, que vem se alastrando pelo macro território, autointitulado de Ocidental. 

Há também quem veja o capitalismo como única saída para avanços sociais e supremacistas, que acreditam que a saída é a preponderância de um perfil Étnico-Racial, sobre os demais. A chama guerra cultural é uma necessidade estratégica (muitas vezes violenta) de tomada de poder. A participação social, ampla e democrática, é alvo permanente desses grupos, que não são majoritários, mas disputam ferozmente uma hegemonia que privilegia a centralidade do poder.

A cultura, no modelo Neoliberal de gestão pública

Sob o ponto de  vista histórico, atribuirmos ao binômio Thatcher e Reagan o estabelecimento do neoliberalismo no Ocidente. Respectivamente primeira-ministra do Reino Unido e Presidente dos EUA, essas duas lideranças politicas deram o tem do modelo globalizado de gestão tendo a economia como eixo, tido por eles  mesmos como um caminho sem volta. 

O Instituto Liberal, organização que se destina a promover o Liberalismo no Brasil, publicou em 08 de fevereiro de 2021, em seu site, uma celebração aos 110 anos de aniversário de nascimento de Ronald Reagan. Na ocasião, o site atribui a seguinte frase ao ex-presidente dos EUA: “O governo é como um bebê. Um canal alimentar com grande apetite em uma extremidade e nenhum senso de responsabilidade no outro.”

Durante da década de 1980, a ideia de Estado mínimo, com desregulamentação da economia e fomento à livre iniciativa, dava o tom dos novos tempos. Com a motivação de ter o mercado como alavanca do desenvolvimento, protagonizando e financiando os avanços sociais, estava dado o mote no qual os jovens economistas e a comunidade capitalista dirigente investiam, o que faz eco até os dias atuais, vide o fenômeno Milei, na Argentina.

No Brasil, se considerarmos o recente período golpista, desde o Impeachment contra Dilma em 2016 até a derrota de Bolsonaro em 2022, haverá quem sinta saudades dos embates entre as esquerdas e o neoliberalismo, sobretudo nos governos Fernando Henrique Cardoso, quando de fato discutíamos cultura e sociedade no campo ideológico e político. 

É importante, como pressuposto, considerar um referencial do neoliberalismo na gestão cultural brasileira, que foi a criação das  Leis Federais de Incentivos fiscais à Cultura. A primeira delas é sancionada em 1986, pelo então Presidente José Sarney (Lei nº 7.505/1986) e a segunda e mais conhecida Lei Rouanet (Lei 8.313/1991). Criada em 1991 no governo Collor, a vocação da Rouanet era a de lançar a produção cultural brasileira nos braços da iniciativa privada que, por sua vez, priorizava produções capazes de ampliar a visibilidade e a relevância das empreses, na sociedade, assim como a chamada Lei Sarney já propunha. 

A principal diferença entre os mecanismos do modelo de Collor em relação ao de Sarney, no que se refere ao acesso a recursos privados para a produção cultural, é que a Rouanet desenvolveu mecanismos mais eficientes e transparentes de controle. Podemos citar como o mais relevante a criação do Fundo Nacional de Cultura.

Quando Paulo Guedes, um homem que fez sua carreira no mercado financeiro, é posto à frente da economia brasileira, temos a noção de que mesmo o mais desorientado governo tem a economia como motor do desenvolvimento, alheio às reais necessidades da maioria da população. Fato que conclui de forma nítida que, segundo Boaventura Santos (2018) aparentemente, o capitalismo venceu a disputa com o socialismo.


As Culturas Populares na pauta do MinC

Na década de 1960, quando o estado do Rio de Janeiro estabelece o primeiro modelo de gestão da cultura no Brasil, a ideia se voltava a uma vinculação da pasta da cultura à de educação. Ocorre que tal visão apontava para a formação e a valorização do patrimônio material em detrimento do imaterial que, por sua vez, tem lastro nas culturas populares e tradicionais, como vemos hoje. 

Vale observar que, aqui em nosso estado do Rio de Janeiro, o primeiro ato de registro do patrimônio cultural da então Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico (DPHA) ocorreu em 1965, ano de criação do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural-INEPC. O Parque Lage e o palacete ali existente foram os primeiros favorecidos, em relação a bens tombados. Mesmo tendo em seu organograma um Departamento de Folclore, ainda hoje não há mecanismo de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, o que se reflete na maioria dos estados federados.

A chamada Lei dos Mestres, que propõe a criação de um auxílio financeiro para mestres e mestras reconhecidos por suas contribuições à cultura brasileira tradicional, tramita na ALERJ desde 2019 (PL nº 1688/2019), após longos estudos e debates, também na sociedade civil, incluindo a UERJ. A nível federal, a Lei dos Mestres tramita desde 2011 (PL 1176/2011), sem previsão de discussão na CCJ, deixando claro que a motivação à preservação de bens materiais supera a relevância da contribuição indivíduos às nossas identidades culturais. 

Na semana de Arte Moderna de 1922 foi levantada discussão sobre nossas identidades culturais a partir da base da sociedade, sejam elas urbana ou camponesa. Foi o primeiro momento de real humanização da cultura popular e tradicional, dando um dos primeiros significados antropológicos às humanidades, refletidas na ideia de folclore. 

Segundo Nilza Megale (1999), o entendimento do que seja folclore hoje segue no sentido de que “pode ser definido como a ciência que estuda todas as manifestações do saber popular”, caracterizando-se pela sistematização do conhecimento não letrado. É claro que esse ponto de vista parte de quem formula conceitos e define regramentos quanto a observação de fenômenos que descrevem as mentalidades de populações periféricas. Fatalmente os saberes ali produzidos serão subjugados a uma visão de mundo mais ampliada.

Por ocasião do I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, um documento foi produzido, definindo as bases de um conjunto de regramentos que definiriam o que é e como lidar com os fenômenos socioculturais na base da sociedade. Vale lembrar, inclusive, que tais ditames surgem em um momento no qual a gestão da cultura ao nível nacional está atrelada à educação e a saúde. A I Carta do Folclore Brasileiro, produto final daquele congresso, serviu de base para orientar a gestão do Centro Nacional do Folclore, que viria ser criado em 1958.  Nele é possível compreender, entre outras coisas, a como deveria ser a metodologia da pesquisa em folclore:

A atuação dos elementos integrantes das missões assistenciais visará precipuamente à assistência sanitária, educacional e cultural às populações participantes das romarias, procurando fixar, em particular, seus objetivos no seguinte: orientar o homem no sentido de sua fixação à terra, evitando a emigração; apresentar programas ou atividades que não entrem em choque com o espírito da romaria ou a mentalidade da população; programar seus trabalhos em horas que não perturbem os atos religiosos; prestigiar as manifestações artísticas autóctones, promovendo exposições de arte popular, festas de música e danças regionais, etc., de maneira a criar, no povo, interêsse pela conservação do que lhe é próprio em atividades artísticas; concorrer para a educação e o bom gôsto.  (p.3)

O documento propunha orientações ao governo federal, quanto a verificar e intervir nas condições de saneamento e salubridade dos grupos. Também, levar filmes, brincadeiras e peças teatrais, contextualizando os grupos quanto ao que acontece no restante do país.

Nota-se aí que aquele ideário, cujo princípio visa a promoção de um gosto a ser absorvido pelos iletrados, transpassou os sistemas monárquicos e republicanos. Ou seja, ainda se gasta milhões na manutenção de edificações históricas e, de fato, relevantes para a preservação da memória e da paisagem urbana. No entanto, deve-se ter em mente que é nas mutações inerentes às manifestações de base social, que podemos identificar com melhor clareza do que são feitas nossas identidades nacionais.

O que identificamos na prática é que as expressões culturais que emergem da base da sociedade ainda precisam exercer um esforço significativo, sobretudo quando o modelo de gestão cultural tende, ainda hoje, a privilegiar a chamada economia da Cultura.

O MinC, sobretudo nos últimos vinte anos, promoveu avanços significativos no que se refere a consolidação de mecanismos de controle social e de escuta. Sim, a sociedade civil tem garantido lugar no debate quanto aos rumos da cultura nacional, cabendo ainda ao governo federal oferecer garantias para a eficiência desse pareceria, nos estados e municípios. É também importante observar que ainda vivemos sob risco de retrocessos, sobretudo se considerarmos a eficiência de uma parcela significativa da sociedade que se demonstra extremamente reacionária, que desenvolveu expertise no que se refere ao uso das mídias sociais. Algumas delas, criadas especialmente para oferecer acolhimento de ideias contrárias a diversidade de práticas e pensamentos, na sociedade contemporânea.

Cabe, portanto, à sociedade civil organizada, se mobilizar, no sentido de consolidar o MinC como principal canal de escuta e debate diante da sociedade brasileira, haja vista que o totalitarismo político demonstra estender raízes pelo mundo, contaminando as bases da sociedade, em um modelo ainda mais nefasto de globalização.

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*Ivan Machado é Professor de História, Mestre em Educação, especializado em Arte-Educação e, atualmente é presidente do Centro de Cultura Popular da Baixada Fluminense. 



quinta-feira, 6 de março de 2025

ANCESTRALIDADE NO CARNAVAL: A COMUNIDADE RESISTINDO AO BRANQUEAMENTO DA AVENIDA

Ser Preta e gay no Carnaval: defesa coletiva de identidade (foto: Alma Preta)

Por Ivan Machado*

O Professor Luiz Simas diz que “A escola de samba educa”, se referindo a ocupação do buraco historiográfico que a educação formal ainda permite, mesmo anos após as Leis 10639/2003 e 11645/2008. Respectivamente, essas Leis, incorporadas à LDB, tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana e indígena, em todo território nacional. Com isso, é digino de orgulho e aplauso ver que a escola que obedece tais preceitos, é a de samba, mesmo sem pactuação formal com o Estado, quanto a tais princípios.


O carnaval do Rio de Janeiro demonstra claramente sua condição de instância de resistência cultural afro centrada, enfrentando os bombardeios fundamentalistas, que têm origem em igrejas protestantes, sobretudo aquelas ligadas a figuras públicas na mídia ou na políticas. Sabemos que não é rara a encomenda de enredos, o que muitas vezes se dá pela necessidade de patrocínio por parte das agremiações, de modo que seja possível botar literalmente o bloco na rua. No entanto, é inevitável que as ligas carnavalescas contem com muitos enredos abordando a ancestralidade afro diaspórica. Mas, será essa uma característica exclusiva do carnaval fluminense?

"Magia" lançado em 1985, considerado marco do Axé Music


Os estados da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco foram, nessa ordem, os estados que mais exploraram a mão de obra africana para produção de riqueza, no período colonial. Esses três estados brasileiros sozinhos, já nos colocam como o país com o maior contingente de negros, fora do continente africano. Logo, deveria ser natural a preponderância da cultura afrobrasileira em nossas expressões culturais, o que sabemos não ser algo assim tão simples.


É preciso muita vontade política e econômica para criminalizar ou demonizar o carnaval, diante de uma população majoritariamente negra. Nesse ano de 2025, Salvador - BA celebra 40 anos do gênero musical denominado de Axé Music. Como o nome mesmo descreve, aquela música, oriunda de grupos ligados a terreiros de Candomblé, gradativamente deram lugar a um discurso midiático, voltado ao universo da Word Music. Logo, músicas como “Divindade do Egito” e “Protesto do Olodum”, deram lugar a músicas como “Canto da Cidade” e “Nega do Cabelo Duro”. Essa última, integrando o disco “Magia” de Luiz Caldas, tido como marco referencial desses 40 anos, em detrimento da produção musical e discurso de grupos afro, como Ilê aiyê e Filhos de Gandi. 


A cena musical pernanbucana, por sua vez, foi a grande mola propulsora do Axé Music enquanto movimento musical que, posteriormente, transformou salvador no centro de atração turística que conhecemos hoje. Armandinho, um dos guitarristas mais importantes da música brasileira, era um roqueiro, que criou um trio elétrico mirim, ainda no final dos anos 60, onde tocava frevos com sua banda. Em Pernambuco, no entanto, o frevo das guitarradas não é hegemônico no carnaval. Os maracatus, sim, são profundamente arraigados às tradições afro, com símbolos que agregam valor histórico e ancestral às alfaias, convivendo de forma respeitosa com as bandas de frevo, sem disputas de hegemonia midiática. 

"Ninguém entende nada": Paulo Barros sobre desfiles com tema afro


Ao dizer que “desfiles com temática africana são todos iguais e ninguém entende nada”, Paulo Barros, carnavalesco da Vila Isabel, abre uma discussão polêmica. Assim como se deu em Salvador, o carnaval do Rio sofre pressões constantes quanto a generalização de seu discurso. No entanto, parece que o sentido de Escola de samba guarda alguns pressupostos inegociáveis. Ceder ao embranquecimento do discurso na avenida esvazia e tirar das mãos da periferia preta o protagonismo do discurso em favor de nossa ancestralidade afro. Por outro lado, a diversidade de possibilidades temáticas afro centradas vai na direção contraria ao pensamento de Barros. São sambas bem descritivos aliados às alas, adereços e carros alegóricos,  reforçando o discurso de cada enredo, prendendo o público diante da tela ou nas arquibancadas, sendo pouco provável que as letras, exaustivamente repetidas na Avenida, não sejam decoradas e cantadas durante dias após, pelo folião.


Após a apuração do terceiro dia de desfiles no Grupo especial do Carnaval do Rio, o que fica de lição é o renovado ânimo das comunidades carnavalescas em expor seu orgulho quanto a própria negritude, através da beleza e da felicidade, bem diante das luzes e câmeras da grande mídia. A dança das cores, tão comuns entre povos originários e africanos, é a melhor expressão de nossa ancestralidade, possibilitando a nós renovarmos nossa metodologia de Resistência Festiva. Aqui em nosso estado, não colou aquele método midiático baiano de 30 anos atrás, quando tentava impor que “a cor dessa cidade sou eu”, com a branquitude soteropolitana metendo o pé na porta dos Ylês. Por aqui, a máxima é que “O povo é quem produz o show e assina a direção”.   


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* Ivan Machado é mestre em Educação, Especialista em Arte-Educação, professor de História e presidente do CCPBF




segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

FILME EMILIA PÉREZ E A FALTA QUE FAZ UM “NÓS POR NÓS”

Emilia Perez: um filme que divide mesmo as opiniões? (foto:redes sociais)


 Por Ivan Machado

Ao assistir o filme Emilia Pérez, protagonizado pela atriz espanhola e trans, Carla Sofia Gazcón, acreditei piamente que, finalmente, a mais cobiçada academia do cinema mundial estava finalmente colocando o público LGBTQIA+ em seu lugar de direito, oportunizando acesso justo ao talento de uma comunidade vitima de tantos preconceito. Os doze prémios conquistados desde seu lançamento em 2024, me convenceu de que algumas impressões iniciais sobre o filme de Jacques Aldiard, cairiam por terra diante de olhares tão técnicos, como os de experientes profissionais da sétima arte, mundo a fora.

Ledo engano. Ao me debruçar sobre algumas das diversas impressões do universo Transgênero sobre o filme, me dei conta da armadilha na qual eu e tantas outras pessoas Cisgênero como eu caímos, ou mesmo, nos jogamos, ao tentar defender ideias sobre as quais não tempos lugar de fala, mesmo que munidos de uma suposta visão progressista. A final, quem de nós nunca se arvorou no deseja de “dar voz” a esse ou aquele grupo social vulnerabilizado, em detrimento da necessidade de dar-lhes "ouvidos”?

Militante ou "cirandeiro"?

Há situações nas quais de fato grupos vulnerabilizados carecem de amplo apoio social. No entanto, usar de artifícios estéticos para defender causas mais profunda é um equívico que precisamos evitar, sobretudo se não temos uma causa própria ou coletiva, com a qual temos relação ou vínculo direto. A esse aglomerado de militantes sazonais ficou comum chamar de "esquerda cirandeira". Veja o que o site um trecho da reportagem de Paulo Mota e Edilane damasceno sobre o uso do termo:

Em 2016, durante manifestações contra o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, integrantes do PCO (Partido da Causa Operária) impediram integrantes do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) de dançarem uma roda de ciranda, como parte do protesto. A partir daí, virou meme o termo “esquerda cirandeira” que seria utilizado de forma pejorativa para criticar pessoas que seriam de uma  “esquerda Nutella”, mais chegados ao oba-oba, do que à luta, e mais ligadas à elite intelectual do país do que às classes trabalhadoras. 

Abaixo segue duas dicas básicas para que possamos compreender um pouco mais sobre o universo trans, sem os equívocos comuns a quem entende que pode dar uma força à necessária diversidade.

A primeira dica é o documentário de 2020, REVELAÇÃO, que tem 1:47h de duração, disponível na plataforma NETFLIX. “Neste documentário, nomes influentes da arte e do pensamento transgênero analisam o impacto de Hollywood na comunidade trans.

A segunda dica segue abaixo na íntegra, é a coletânea de impressões que o site GLAAD fez sobre o filme, em novembro de 2024, sempre com a escrita de pessoas pertencentes ao universo trans. São abordagens diferentes sobre o mesmo filme, diversificando opiniões. A matéria do site está em inglês. Mas, como é possível traduzir através do navegador, o texto aqui está em português. Segue também link para consulta de outras referências contidas no texto, inclusive o filme que recomendamos acima.

A íntegra da matéria do site Glaad

Agora que “Emilia Pérez” está disponível na Netflix [na europa e EUA], mais pessoas podem criticar esse retrato profundamente retrógrado de uma mulher trans.

Embora o filme tenha recebido ótimas críticas quando estreou em Cannes no início deste ano, nenhuma dessas críticas foi escrita por pessoas trans. Há um desafio contínuo com festivais de cinema de alto nível programando filmes sobre pessoas trans – que são então vistos e avaliados por críticos cisgênero – meses antes de uma pessoa transgênero real poder assistir ao filme. Isso aconteceu em 2018 com o filme “ Girl ”, também adquirido pela Netflix em Cannes.

Enquanto algumas críticas elogiam as performances em “Emilia Pérez” ou os valores de produção do filme, os críticos que estão focados na representação trans do filme contam uma história muito diferente. Reunimos várias dessas críticas abaixo — a maioria delas de críticos transgêneros. Esses críticos entendem como representações inautênticas de pessoas trans são ofensivas e até perigosas.

Se essas análises fizerem você querer aprender mais sobre a história da representação trans no cinema e na televisão, você pode assistir ao documentário inovador “ Disclosure ”, que a Netflix comprou no Sundance em 2020. “Disclosure” é um exame aprofundado da maneira como o cinema e a televisão venderam histórias distorcidas e difamatórias sobre pessoas transgênero por mais de 100 anos. Depois de assistir a “Disclosure”, você verá como “Emilia Pérez” recicla os estereótipos, tropos e clichês trans de um passado não tão distante.

“Emilia Pérez” é um passo para trás na representação trans. A Netflix também está transmitindo o novo documentário “ Will & Harper ”, no qual uma mulher transgênero compartilha sua própria história com suas próprias palavras. Aqui está uma história sobre filmes e programas sobre pessoas trans que receberam uma indicação ao GLAAD Media Award no ano passado. Este é o tipo de representação trans que o mundo precisa agora mais do que nunca.

Por que o Oscar está completamente errado sobre Emilia Pérez (e o que você realmente deveria assistir) 

por BJ Colangelo (SlashFilm)
"Mas considerando as críticas legítimas que foram feitas contra o filme em relação à sua representação trans e à sua representação da cultura mexicana , é extremamente decepcionante perceber quantos eleitores da Academia estão completamente desinformados e claramente votando sob o pretexto de progresso performático do que "Emilia Pérez" simboliza, em vez de deixar que as comunidades representadas no filme assumam a liderança e determinem se esta é ou não uma representação que merece celebração."

“Emilia Pérez ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Cannes e recebeu uma porção de elogios da crítica, mas a esmagadora maioria foi escrita por críticos cisgênero. Quanto mais os críticos trans e queer viam o filme, mais óbvios os problemas se tornavam. GLAAD até chamou o filme de “um retrato profundamente retrógrado de uma mulher trans”, um sentimento que compartilho. Mas aqueles que amam o filme continuam a aclamar como “progresso”, observando que a indicação de Karla Sofia Gascón para Melhor Atriz é uma estreia histórica para atores transgêneros em todos os lugares (apesar do fato de ela ter insinuado que os críticos queer e trans que não gostaram do filme dela eram “estúpidos” ). Mas quem pode ditar a aparência do "progresso": as pessoas cis bem-intencionadas que tentam desesperadamente provar que não são transfóbicas promovendo uma bagunça regressiva, ou a comunidade LGBTQIA+ que tem se manifestado contra isso desde que o agora infame clipe da música "do pênis para a vaginaaaaaaa" começou a circular nas redes sociais?

Como uma mulher trans, é por isso que acho que Emilia Pérez é abaixo da média, hipócrita, um absurdo prejudicial 

por Amelia Hansford (PinkNews)
“O roteiro de Emilia Pérez é tão cisgênero que é quase satírico. Na verdade, é o maior indicador da identidade de gênero de Audiard. Ele poderia muito bem ter a palavra “cis” tatuada na testa. O que é imediatamente frustrante é que Emilia Pérez exala um tipo de confiança que é quase nauseantemente segura de si mesma quando não deveria ser. Por exemplo, juntando aumento de mama e rinoplastia com cirurgia de bumbum, ou tendo Castro fisicamente recuando diante dos efeitos que os hormônios tiveram no corpo de Pérez, ou quando a filha de Emilia diz que ela cheira “como um homem”. É um roteiro tão alienado do processo de transição como mulher trans — e ainda assim deixa escapar falsidades com uma convicção tão ousada e intensa — que você pensaria que o próprio Audiard passou por 500 cirurgias diferentes de afirmação de gênero de uma só vez.”

“Emilia Pérez é principalmente um filme sobre renascer, e tenta usar a ideia de transição para transmitir que, por meio de sua transição, Emilia está tentando se arrepender dos pecados que cometeu em seu tempo como chefe do cartel. O problema com isso é que a transição não é uma decisão moral, e o ato de transição por si só não o absolve de seu eu passado. Não é uma morte, nem um renascimento. Em vez disso, Emilia continua a usar contatos do cartel, manipula sua família para confiar e passar tempo com ela, torna-se fisicamente agressiva perto do final do filme quando a reconexão não dá certo, e até opta por ameaçar sua esposa, interpretada por Selena Gomez, com chantagem financeira. um deles é enquadrado de uma forma que faz algum sentido temático e acaba apresentando Emilia como mais uma personagem trans psicopata para adicionar à pilha.”

Emilia Pérez é ruim, na verdade. Por que a temporada de premiações adora isso? 

por Samantha Allen, James Factora, Fran Tirado (them.us)
Fran Tirado: Também levei três sessões para concluir, e cada uma delas pareceu mais torturante. Mas entrei no filme de boa fé, como sempre faço, aberta e curiosa. Uma líder de cartel finge sua própria morte e faz uma transição médica? Inscreva-me! Sou uma grande fã de drama pelo drama. Adoro Ugly Betty e outras representações "problemáticas" de vilania trans. Estava pronta para encontrar algo de que gostasse — ou, pelo menos, algo que eu odiaria tanto que seria um daqueles filmes tão ruins que é bom. Mas não foi nenhum dos dois. Odeio, odeio, odeio esse filme. Achei que todos nele eram ruins — canto ruim, espanhol ruim, atuação ruim ou presos a uma história ruim e, portanto, ruins por causa disso.

James Factora.: De qualquer forma, acho que Emilia Pérez é sintomática de uma tendência que notei na produção cinematográfica na primeira metade desta década (oh Deus): filmes que são apenas OK ou ativamente ruins, mas vêm vestidos com todas as armadilhas do "prestígio". Eu provavelmente teria adorado Emilia Pérez se tivesse sido realmente um filme B de baixa qualidade (e comprometido em ser isso) em vez de uma produção brilhante que então fica presa em algum lugar entre o camp e a seriedade. Este filme nos pede para suspender tanta descrença (de novo, a coisa toda em que a personagem de Selena Gomez de alguma forma magicamente não percebe ou mesmo suspeita que Emilia é sua esposa de muitos anos?) e então... não nos leva a lugar nenhum. Se você vai inventar um enredo que seja realmente maluco em todos os aspectos, pelo menos se comprometa a fazer o filme em si maluco de uma forma divertida.

FT: Voltando à comparação com a Sra. Doubtfire. Se eu fosse insistir em "representação", é abominável para mim dentro do realismo do filme que Emilia faça o que faz. Ela troca de gênero, recusa a responsabilização por uma vida inteira de mau comportamento e manipula sua esposa e filhos para passarem tempo com ela sob pretextos fraudulentos. Este também é o enredo de Sra. Doubtfire, mas Sra. Doubtfire é um bom filme porque entende o quão absurda a personagem é. Emilia Pérez não sabe o quão absurda ela é. Em vez disso, sua transição é enquadrada como uma absolvição, usada como uma ferramenta para engano e feita para ser a razão de sua redenção e unção de santa no final. É uma ideia de transgeneridade tão completamente da imaginação cis. [ênfase adicionada] Se o filme tivesse percebido, "Não, Emília realmente é a vilã", e ela tivesse continuado com seu mau comportamento, talvez tivesse assassinado mais pessoas, perdido o controle, alimentado seu próprio absurdo — esse é o filme para o qual me inscrevi!

O maior problema de Emilia Pérez é Emilia Pérez 

por Harron Walker (The Cut)
“Não exijo realismo total de todos os filmes que vejo. Posso até apreciar o exagero, intencional ou não, de Emilia acordando de suas 5 milhões de cirurgias simultâneas, seu rosto enfaixado como uma múmia, exceto pelos olhos e lábios. Mas espero que um cineasta tão tomado pelo conceito de transição, alguém que demonstrou um certo nível de sensibilidade consciente em seus esforços anteriores para retratar vidas diferentes da sua, pelo menos demonstre uma compreensão informada de como esse conceito realmente se parece na prática.”

“'A transição de gênero parece fascinar quase todo mundo que não passou por isso'”, escreveu certa vez a autora canadense Casey Plett ao criticar o que ela chamou de 'romances de gênero', ou ficção que utiliza a transgeneridade como uma metáfora para ajudar pessoas cis a aprender algo novo sobre si mesmas. A análise de Plett é muito aplicável à transição de Emilia e ao propósito que ela serve no filme. Para Epifanía, a namorada de Emilia interpretada por Paz, é uma lição sobre se dar permissão para 'ser livre... tão livre quanto o ar'. Para o cirurgião israelense transfóbico de Rita e Emilia, é alimento para um experimento mental. Apesar de concordar em fazer os procedimentos, o cirurgião sugere que, em vez de fazer uma cirurgia plástica, 'ele', ou seja, Emilia, 'melhor mudar de ideia', acrescentando que, embora o cirurgião possa mudar o corpo de Emilia, 'você não pode mudar a alma'. Para isso, Rita argumenta: 'Mudar o corpo muda a alma. Mudar a alma muda a sociedade'. Acho que aí está um pedaço de realismo do Monkey's Paw: duas pessoas cis debatendo a ética da transgeneridade sem nenhuma pessoa trans presente.”

Crítica de Emilia Pérez – um musical que mal quer ser um musical 

por Juan Barquin (Little White Lies)
“Na primeira cena deles juntos, Rita literalmente suspira de desgosto com Emilia (vestida de menino como Manitas) abrindo sua blusa para 'provar' que ela leva a sério a transição. Embora o público, felizmente, não veja os seios pequenos que ela presumivelmente desenvolveu com dois anos de hormônios, a cena de reação sozinha sendo tocada como uma revelação de horror corporal é o suficiente.

As políticas regressivas do filme estão em todos os lugares, não apenas na forma como a transição de Emilia é apresentada (completa com uma cena de "mulher encara sua nova vagina através de um espelho de bolso" que, desconcertantemente, acontece enquanto Emilia ainda está enfaixada da cabeça aos pés após a cirurgia). Toda vez que Emilia "reverte" para seus "velhos hábitos", Gascon abaixa seu registro vocal como se quisesse igualar masculinidade com maldade e feminilidade com bem. Homens podem não ser mais do que adereços, mas o arco narrativo de nenhuma mulher é remotamente bem desenvolvido, Audiard ignorando qualquer tentativa de desenvolvê-los, fazendo-os entregar suas falas sem graça (com a pobre Gomez incapaz de terminar algumas delas em sua língua nativa do filme, espanhol) até que sejam descartadas.”

'Emilia Pérez' é o absurdo cis mais único que você já viu 

por Drew Burnett Gregory (Autostraddle)
"Sejam feitas por nós ou sobre nós, quero mais histórias trans que sejam audaciosas, ambiciosas e novas. O problema com Emilia Pérez é que, embora seja nova em alguns aspectos, é muito, muito cansada em outros.

O filme aborda quase todos os clichês trans que você pode imaginar:

  1. Assassino de mulher trans
  2. Mulher trans trágica
  3. Mulher trans abandona esposa e filhos para fazer transição
  4. Transição tratada como uma morte
  5. Deadnaming e troca de gênero em momentos cruciais
  6. Mulher trans descrita como metade homem/metade mulher”

“Não estou ofendido por nada nessa lista. Não é sobre ofensa ou algo não ser permitido. É que é chato. Não entendo por que um filme que é tão maluco de outras maneiras escolhe minar seus pontos fortes com essa compreensão superficial de seu personagem titular.”

“Essa é toda a experiência do filme. Um assombro maravilhoso é sentido durante um número musical ou quando o filme permite que seu personagem trans aja de maneiras que raramente vemos na tela. E então uma linha de diálogo será dita ou uma escolha narrativa será feita que parece, na melhor das hipóteses, um revirar de olhos e, na pior, um soco no estômago.

Emilia Pérez é um desastre glorioso. Desde "Laurence Anyways", de Xavier Dolan, nenhum filme trans foi tão ousado e tão chato ao mesmo tempo. Mas já faz mais de uma década desde aquele filme e minha paciência está acabando. Certamente, essa compreensão superficial de pessoas trans não pode ainda ser interessante para pessoas cis. Quantas vezes as pessoas cis precisam aprender sobre nós antes que um retrato como esse soe tão falso para elas quanto soa para mim?”

'Emilia Pérez' é o musical divisivo da Netflix sobre um chefe de cartel trans 

com Shar Jossell e Reanna Cruz (NPR)
CRUZ: O filme falhou de várias maneiras, acho que de muitas maneiras também. Achei que estava estereotipando os mexicanos. Achei que estava estereotipando as mulheres trans.

CRUZ: Durante todo o tempo em que assisti, tive uma sensação muito estranha no estômago porque, para mim, parecia que o cineasta estava pintando mulheres trans como mentirosas. Mentirosas e pessoas que não conseguem dizer a verdade e não sabem quem são. E as músicas meio que se inclinam para isso. Onde metade das músicas você tem Emilia cantando 'Quem sou eu?' ou falando sobre 'Eu era um ele e agora sou uma ela.'

JOSSELL: Eu questionei quando estava assistindo isso, temos diversidade suficiente na narrativa para publicar histórias como essa que meio que apenas alimentam a máquina em vez de desafiá-la? E a resposta foi não. Isso não quer dizer que não podemos ter uma representação trans de baixa qualidade, mas eu ainda estou firme: não há representação trans suficiente para abrir espaço para a representação de baixa qualidade. E eu nem estou sendo subjetivo com isso. É uma porcaria. Ele literalmente se inclina para tropos prejudiciais... Eu senti que ele banalizou a experiência trans e realmente reduziu as pessoas trans a esses, tipo, enganadores egoístas. E eu odiei isso.

Plano reverso: Emilia Pérez 

por Caden Mark Gardner (Plano reverso)
“Audiard pode ter tido as melhores intenções, já que ele já trabalhou com artistas trans antes (incluindo Rebecca Root em 'The Sisters Brothers'), mas não há interioridade suficiente dada à sua protagonista trans para fornecer quaisquer riscos emocionais enquanto a personagem serpenteia seu caminho para o martírio inevitável. Raramente há qualquer sensação palpável de ansiedade enquanto Emilia olha por cima do ombro, não apenas para a potencial retribuição do mundo do crime contra ela, mas também para a transfobia sistêmica e o risco de violência associado a ser uma pessoa trans que pode ser exposta contra sua vontade. O mais perto que os espectadores chegam da incapacidade de Emilia de manter as aparências é quando seus filhos estão envolvidos — esses raros momentos são humanizadores, mostrando que em algum nível ela está agindo por algum nível de egoísmo e orgulho.

Talvez eu não consiga, no final das contas, reunir uma reação forte de uma forma ou de outra a Emilia Perez porque fiquei insensível à ideia de papas na língua liberal como um alívio para as realidades terríveis que aguardam pessoas trans como eu nos Estados Unidos. O que realmente me chocou foi ver o vice-presidente eleito se gabar abertamente de sua transfobia em podcasts e mais de US$ 200 milhões em anúncios antitrans sendo despejados na recente eleição dos EUA, na qual mexicanos e pessoas trans se tornaram ameaças existenciais intercambiáveis ​​à ordem social pelos apoiadores de Trump. Não é que eu pensasse que um progresso significativo havia sido feito ou que "o mundo estava pronto para nós", mas testemunhar uma certa tensão de malícia transfóbica que havia sido fomentada por trolls de extrema direita da internet sendo transferidos para o cargo mais alto do mundo é um desenvolvimento surreal, um com o qual a sociedade americana precisa contar. Com seus tropeços narrativos e música sem brilho, Emilia Perez nunca seria um filme que eu pudesse abraçar, mas sua chegada neste momento da história parece uma piada cósmica malfeita.”

Emilia Pérez/Will & Harper 

por Mattie Lucas (cinema trans centenário)
Emilia Pérez foi recebida com críticas arrebatadoras em Cannes, seu estilo musical incomum encantou o público antes de ser escolhido pela Netflix nos Estados Unidos. No entanto, apesar de sua popularidade, pode ser um dos filmes mais profundamente equivocados sobre transgeneridade que já vi... A transição de sua protagonista é vista como dúbia e desonesta, um ato de manipulação por meio do qual ela continua suas tentativas egoístas de controlar aqueles que abandonou. Não apenas sua transição é retratada mais como um disfarce para fugir das autoridades, é um ato de egoísmo contínuo que acaba destruindo não apenas sua própria vida, mas a vida daqueles que ela ama.

Emilia Pérez é um filme regressivo que pensa que é woke. Provavelmente ganhará um Oscar. 

por Kyndall Cunningham (Vox)
Ainda assim, a presença de Emilia Pérez na corrida do Oscar não é exatamente um choque, dado que se encaixa perfeitamente em uma categoria de filmes que o establishment branco de Hollywood adora celebrar: histórias piegas sobre pessoas à margem da sociedade que permitem que os espectadores se sintam socialmente conscientes por meio de seu consumo, sem desafiar nenhum dos estereótipos e mensagens políticas apresentadas neles.

Mesmo com as tentativas superficiais de Audiard de validar a identidade de gênero de Emilia, isso é amplamente interpretado como um disfarce ao longo do filme. Momentos da "máscara" de Emilia deslizando em torno de sua família parecem cenas arrancadas de Tootsie ou Sra. Doubtfire . Quando ela fica brava e violenta com Jessi, sua voz volta a um tom profundo e rouco. Não há muito que separe esse retrato da retórica antitrans prejudicial que sugere que mulheres trans são atrizes enganosas que representam danos às mulheres cis.

Emilia Pérez é um desastre inovador 

de David Opie (Yahoo)
“Mas assim como Green Book e Bohemian Rhapsody foram criados com pessoas brancas e heterossexuais em mente, o mesmo pode ser dito de Emilia Pérez. Exceto que, desta vez, são os espectadores cis que estão sendo apaziguados nessa confusão insensível de um filme que já atraiu críticas de um grande número de jornalistas trans (veja a crítica estelar de Drew Burnett Gregory no Autostraddle , por exemplo).”

“Na superfície de tudo isso, você teria dificuldade em sugerir que Emilia Pérez é chata. Os números musicais, especialmente, são bastante audaciosos às vezes, tanto estrutural quanto formalmente falando. No entanto, é a preocupação do filme com o exterior superficial da própria Emilia que acaba sendo tediosa, jogando com tropos transfóbicos há muito tempo considerados banidos para os reinos do inferno, onde o vestido de Buffalo Bill e a cera de cabelo de Ace Ventura podem ser encontrados.”

“Não para por aí também. Ao longo do filme, Emilia Pérez é infinitamente submetida a misgendering e deadnaming a cada momento, enquanto até mesmo a própria Emilia estranhamente se refere ao seu corpo como “metade ele, metade ela” durante um número romântico com outra mulher.”

“O pior momento, no entanto, pior até do que o destino que eventualmente recai sobre Emilia, é o momento em que nosso protagonista joga sua esposa desavisada em uma cama e a ameaça usando a mesma voz baixa e masculina que ela usou antes da cirurgia. É como se o chamado “mal” em Emilia fosse uma entidade separada, o “homem” que ela foi criada para ser, em vez de ela ser a mesma pessoa passando por uma jornada de transição.”

O thriller policial musical Emilia Perez é um esforço superficial e sem alma 

Por Sarah-Tai Black (The Globe and Mail).
“Em termos da personagem que vemos em Emilia Pérez, a visão de Audiard é, sem dúvida, um retrocesso na representação de mulheres trans no cinema, que historicamente já foi, em uma palavra, abismal.”

“Após se reunir com Jessi e seus filhos sob o disfarce de ser uma prima distante de Manitas (sim, à la filme de Chris Columbus de 1993, Uma Babá Quase Perfeita), Emilia luta para reconciliar o relacionamento passado dela e de Jessi com seu contexto presente irrevogavelmente alterado, “revertendo” à violência e demonstrações manipuladoras de poder quando confrontada com as crescentes pressões de sua realidade atual. Isso seria bom se esses tipos de danos não fossem profundamente codificados como uma “regressão” da parte de Emilia ao seu antigo eu “masculino”; notavelmente, a atriz Gascón abaixa sua voz em vários registros em tais cenas e, mais tarde no filme, tem seus dedos perfeitamente manicurados – anteriormente um componente crucial da sintaxe visual feminina de sua personagem, ao lado de figurinos elegantes e elegantes realizados por Anthony Vaccarello de Yves Saint Laurent – ​​cortados por sequestradores.”

“É um filme superficial e sem alma que não tem fé na inteligência do seu público, desperdiça as habilidades consideráveis ​​das suas atrizes principais e, com a sua política superficial e inerte, é patologicamente audacioso no pior sentido.

Emilia Pérez é um desastre do começo ao fim 

por Douglas Markowitz (Miami New Times)
“É apropriado que Emilia Pérez, o filme musical do diretor francês Jacques Audiard sobre um chefe de cartel transgênero, comece com um sequestro porque, durante toda a sua duração interminável de 132 minutos, eu me senti como se eu fosse o único a ser mantido refém. Não é simplesmente o pior filme do ano; é um insulto cruel, não apenas às pessoas trans, mas a toda a nação do México.”

“Falando nisso, a personagem Emilia também se torna uma questão importante para o filme, o que faz perguntas constantes sobre se ela é genuinamente uma nova mulher. No início do filme, ela convence o obscuro médico israelense (Mark Ivanir) contratado por Rita para completar a cirurgia de que ela sempre escondeu sua verdadeira identidade de gênero como um mecanismo de sobrevivência, mas assim que ela traz sua família para casa, ela começa a questioná-la. Depois de saber do caso de Jessi, Emilia volta ao registro vocal masculino de Manitas para castigá-la e ameaçá-la, como se o homem ainda estivesse dentro dela. Uma música a vê se caracterizar como 'metade dele, metade dela/metade papai, metade tia.'”

“Sou um homem hétero e cisgênero, e não posso afirmar que entendo a experiência trans completamente. (Embora, com certeza, críticos trans como meu colega do New Times, Juan Barquin, também tenham criticado o filme .) Mas nenhuma das pessoas transgênero na minha vida questionaria se elas são ou não o gênero que afirmam ser. No entanto, Emilia constantemente volta atrás em sua identidade escolhida. O filme parece acreditar que seu personagem-título é um homem confuso e pervertido. Ele trafica nos mesmos estereótipos cansados ​​e perigosos que foram atribuídos às pessoas trans por gerações.

O hype do Oscar para Emilia Pérez é desconcertante, e a comunidade trans merece algo melhor 

por Peter Knegt (CBC)
“Muitos estão prevendo que Emilia Pérez receberá uma série de indicações, incluindo uma para Gascón, que se tornaria o primeiro ator abertamente trans de qualquer gênero a ser indicado ao Oscar, o que obviamente seria um grande negócio. Mas precisamos que os órgãos de votação em grande parte (leia-se quase inteiramente) cisgêneros da temporada de premiações tenham cuidado ao abraçar essa narrativa — não por causa de Gascón (que está bem no filme), mas porque Emilia Pérez é um filme confuso, insensível e muitas vezes desconcertante que não parece entender (ou mesmo se importar em entender) seu personagem trans titular. E eu prometo a você que apostar tudo nisso nesta temporada de premiações envelhecerá tão bem quanto Green Book, vencedor de melhor filme.”

Extraido de: https://glaad.org/emilia-perez-is-not-good-trans-representation/

(Atualizado em 15/11/24, 20h10 / Atualizado em 13/12/24 / Atualizado em 05/01/25 / Atualizado em 09/01/25 / Atualizado em 24/01/25)